18 de out. de 2015

O Tsunami passou e a vida tem uma nova cadência

Boa tarde!

Essa noite sonhei com um Tsunami que "corria" atrás de mim. Essa cena se passava em Santo Ângelo, cidade em que nasci e vivi boa parte da minha vida no RS. Tentando descrever o tal sonho posso dizer que as temidas ondas gigantes vinham em minha direção, passavam sobre a minha cabeça, mas eu não era atingida, não me molhava, não me machucava, não morria. Todas as vezes que isso acontecia eu conseguia correr e entrar nas casas que um dia foram da minha mãe e avó.

Durante o sonho eu estava com duas amigas muito queridas e a todo momento me lembrava do Micael que estava um pouco atrás, e do Matheus que estava seguro com o pai em outro local. Assim como eu, meus filhos, marido e amigas também não eram atingidos pelas ondas. Ufa!

Mas esse sonho-pesadelo, me fez acordar pensativa e inquieta. Enquanto tomava café algumas coisas me ocorreram e resolvi escrever esse post fazendo algumas relações entre esse terrível Tsunami e a virada na minha vida. Deve ser meu inconsciente querendo as demandas de artigos que faziam parte da minha rotina antes do Tsunami passar...

Quando aceitei vir para o Canadá - não sem antes relutar muito - considerei a oportunidade que teria em conhecer uma nova cultura e aprender um novo idioma ou dois, como era meu sonho inicial. Deixar minha profissão em standby, ficar longe dos amigos, da minha igreja, academia, Quinzenais e etc foi muito dolorido! Mas havia a possibilidade de viver o novo! Gosto de ter uma rotina organizada, mas também aprecio desafios!

Algum tempo depois as malas estavam prontas e aterrizei nas terras geladas! Fui acolhida com carinho. O tempo passou, a minha vontade de voltar correndo para o Brasil acalmou, fiz novos amigos, me encantei pela língua inglesa, descobri o lado Neidi chef de cozinha, integrei pessoas (acho que esse é meu dom natural), senti frio, conheci lindos lugares e etc...

A vida seguia seu curso! Meu desafio diário era aprender inglês, me comunicar e, claro, vencer o friooooo! Não passava pela minha cabeça ter outro filho.  Para mim o tempo já havia passado e essa possibilidade nem era remota, mas inexistente dado o meu total desinteresse. Talvez egoísmo, talvez por gostar da correria diária, talvez por achar que minha independência findaria, talvez por ter sido mãe tão jovem... Não sei! Só sei que não havia a intenção, não havia instinto materno aflorado. 

Contudo, com apenas 5 meses de Canadá descubro que seria mãe novamente! Como assim? Eu que passei 19 anos da minha vida evitando ter filhos e mesmo na loucura de trabalho e estudo nunca descuidei, estava grávida e com todos os sintomas! Sempre disse que o baby seria do balacubaco, pois ele fazia rebuliço na minha barriga! Instintivamente também sentia que algo seria diferente, que o percurso não seria tão simples. Nunca comentei com ninguém, pois pensava ser um medo natural... Não era! Meu instinto estava certo!

Nos primeiros momentos a surpresa, nos demais dias a alegria que invadia minha alma e irradiava meu ser! Foram 9 meses de expectativa, de preparação, de cuidados, de carinho, de espera pelo grande dia! Minhas intuições persistiam e eu lutava contra...

O grande dia chegou! Depois de horas de trabalho de parto, nasceu um valente, um vencedor. Nasceu meu presente de Deus, meu Matheus! Não vou recontar a história dele porque já escrevi um post sobre a sua luta, mas posso dizer que no dia 30 de janeiro de 2015 uma onda gigante atingiu a minha vida e trouxe algumas mudanças. Porém, mais do que mudanças, trouxe vida nova, alegrias, recomeço, desafios, solidariedade, amor! 

Como eu disse, não imaginava ser mãe novamente, sobretudo,  passar pelas dificuldades, dores e tristezas que passei logo após o parto. Oito meses depois, meu conforto vem da certeza que Deus não dá fardo maior do que podemos carregar, da certeza que Ele me enviou um lindo presente, o qual requer amor, amor do tamanho do mundo! Eu tenho esse amor todo e um pouco mais!

Mas a virada foi gigante...

Antes eu me arrumava e saia de casa.  Se precisava viajar (inúmerassss viagens pela EAD), fazia minha mala em alguns minutos e estava tudo resolvido, ir ao shopping ou ao mercado era algo fácil e rápido, também podia malhar 2 horas diárias e gostar da imagem que via no espelho. Podia ir na manicure semanalmente e fazer escova no cabelo sempre que queria me sentir mais bonita.  Era tudo simples assim!

Depois do dia 30 de janeiro a vida tem outro ritmo. Essa nova cadência ainda é tortuosa para mim. Sempre fui ágil e resolvida. Agora tenho quem dependa de mim e também dependo dos outros. Não posso sair de casa levando apenas a minha mala, tenho O MEU MALINHA!  

Ontem foi até engraçado... O papai acordou, fez a higiene, desceu e tomou café, subiu e se arrumou. Enquanto isso a mamãe conversou com o bebê (temos longos diálogos matinais), desceu e fez mamadeira, subiu e deu a mamadeira, trocou a fralda, colocou roupa adequada para o bebê sair porque estava frio, conseguiu fazer a higiene bucal, se vestiu e desceu com o bebê. Ufa! A mamãe foi tomar café?! Não! O papai já estava calçando o tênis e já havia pego as sacolas porque as compras de supermercado nos esperavam! Então, a mamãe entregou o bebê para o papai que o colocou no carseat, subiu novamente para pegar a mochila do bebê - não sem antes checar se os itens essenciais estavam dentro - desceu e fez as mamadeiras, colocou na bolsa e... pegou uma banana para comer no carro, pois o café pode esperar, o xixi pode esperar, o banho pode esperar!

Não estou reclamando de nada, muito pelo contrário, o marido ajuda bastante e o Mica também.  Estou apenas mostrando que a onda deixou marcas consideráveis. Que esse lupi ainda me confunde, me faz ter dias bons e outros não tão bons assim! Me faz ir do riso ao choro em poucos minutos. 

As pessoas diariamente me perguntam sobre o Matheus, sobre mim, sobre o desenrolar das coisas. Sempre respondo que está tudo bem, pois está! Para algumas eu conto os detalhes das batalhas diárias; para outras apenas faço um resumo breve  usando a frase: está superando! Estou tentando viver o presente e me surpreender com cada avanço do meu valente. Tenho uma rotina agitada com ele: momentos de estimulação motora, conversas, cantoria, leitura, piscina, , mamadeiras, papas, banhos, massagens, máquinas de roupas para lavar, passeios, logo acompanhamento com fono e etc. Mas, mais do que isso, temos uma relação de amor, muito amor! Eu chorei com o primeiro sorriso verdadeiro e ainda choro diariamente com alguma reação inusitada dele ou qualquer outra bobagem.



Por exemplo, ver a reação dele me olhando quando finda a sequência de músicas que sempre canto, rindo a cada amanhecer quando digo "Bom dia Alegria" ou estalando a boquinha quando falo "beijo" são algumas das situações diárias que me enchem de esperança e me impulsionam  a continuar dando o meu melhor!

Beijo gostoso!


Essa semana li um texto que abordava os pitacos enfrentados pelas mamães diariamente. Sim, as pessoas opinam muito! Comparam demais! Infelizmente há muitas pessoas maldosas, frutos de uma sociedade preconceituosa  e sem respeito por tudo o que é diferente. E isso independe de formação ou classe social (ouço cada absurdo). Por isso, para algumas pessoas digo apenas que está superando, pois seria insignificante compartilhar detalhes de uma trajetória permeada por amor e conquistas. Essas pessoas não conjugam o verbo amar!


Como eu disse, as comparações são parte dos pitacos diários que as mães enfrentam... São mais ou menos assim:

Ah meu filho tem X meses e já senta, engatinha, anda, corre!
Ele vai para a escolinha sozinho.
Meu bebê "fala dois idiomas" fluentemente.
Sabe nadar estilo borboleta!
Sabe nomear todos os países e capitais. 
Faz contas como ninguém.
Toma banho sozinho.
Sabe fazer sua própria papinha e passar suas roupas!
Ah meu bebê entrou para a Howard! 

Sim, isso tudo com poucos meses! Muitas mães são assim exageradas. Elas são fruto dessa sociedade em que as crianças são "educadas" como reis, que tudo fazem, tudo podem! 

O que eu faço diante disso tudo? Sinto dó das crianças crescerem tão sem amor, tão imaturas emocionalmente, tão robotizadas. Falo com a experiência de professora!

Então, diante desses descabimentos todos eu resolvi não comparar mais! Sim, inicialmente eu queria que o Matheus seguisse o ritmo de desenvolvimento considerado normal pelos médicos e sociedade em geral. Ficaria louca se continuasse com esse pensamento, pois aqui eles seguem a risca as fases e se algo foge do comum é motivo para ser investigado. kkkkk 

Ainda estou vivendo o processo de aceitação, mas vibro com cada pequeno-GRANDE avanço, pois sei que são mostras diárias do amor e cuidado de Deus com a vida do meu guerreiro lindo e cheiroso. Cuidado com a minha vida e da minha família também! Ter recebido o Matheus é a evidência da possibilidade de me tornar um ser humano melhor e mais sensível. Quanto ao desenvolvimento? Será no tempo dele, no ritmo dele! A própria Bíblia diz que há um tempo para cada coisa. Meu desejo é que ele seja sempre feliz!!! Que ele avance o tanto que conseguir!

Portanto, diante disso tudo posso dizer que assim como no sonho, o Tsunami passou e foi mesmo gigantesco. Deixou marcas, mas não foi capaz de me derrubar. Eu tenho um desafio diário, eu preciso dar o meu melhor, eu devo exercitar o amor. Eu preciso ser resiliente e seguir em frente mesmo que a cadência não seja mais a mesma. Estou aprendendo um novo ritmo! Devo dançar conforme a música! Sou descoordenada e tenho que me esforçar...

Claro que ainda tenho dúvidas, incertezas, medos, insegurança, mas tenho um Deus maravilhoso que me sustenta e fortalece. Tenho uma família Buscapé que é parceira  nesse novo ritmo. Tenho amigos verdadeiros que também querem  a felicidade do Matheus.

Logo janeiro chegará e com ele novos desafios. Mais uma vez viverei o novo, num lugar novo também (moraremos em Brasília), terei que me adaptar, recomeçar. Não posso parar! Talvez precise me reinventar!

Gente linda, por hoje é isso! Adoro o blog pela possibilidade de estar sempre buscando o que registrar, mas dessa vez foi diferente, a partir do sonho deixei meu coração falar.

Essa semana eu volto com  mais relatos e aventuras! Ahhh o frio chegou! Detesto casaco,  luvas, cachecol e demais acessórios desse segmento, mas não tenho mais como fugir deles! Buáaaaa



Bjus e um ótimo domingo!!!